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Artigo do CEO da Ecofinance publicado no Jornal do Comércio/RS em 22/05/2024.

Mudanças climáticas e a tragédia no RS

 

Há 17 anos trabalho com o tema das mudanças climáticas, seja como empresário e consultor, seja como acadêmico. Para nós que trabalhamos ou estudamos cientificamente o tema, é tão evidente que fenômenos climáticos extremos, como os que estamos vivendo no RS, ocorrerão com cada vez mais frequência e em maior intensidade, que isso não entra em discussão nos encontros técnicos. O foco das discussões está em como limitar o aprofundamento dessas mudanças e como podemos nos adaptar ao que já está acontecendo e que tende a piorar. Tendo sempre presente que os impactos, obviamente, são mais severos para quem tem menos infraestrutura, como nós, países em desenvolvimento.

A nossa incapacidade de responder a esses eventos tem como raiz um processo histórico de ocupação desordenada das cidades, onde os limites que os rios precisam para se expandir foram ocupados. Legalmente ou ilegalmente. Onde áreas de escoamento de chuva nas cidades foram permeadas por concreto. Onde pessoas, geralmente de menor renda e mais vulneráveis, foram sendo empurradas para áreas de maior risco. Acontece e vem acontecendo há décadas.

Além disso, medidas de afrouxamento de legislação ambiental, como as que permitem o auto licenciamento ambiental de certas atividades, a redução ou aproveitamento econômico de áreas de preservação e a permissão de construções em áreas de risco continuam a contribuir para esse problema. Reconheço os desafios dos gestores públicos que, em mandatos de 4 anos, devem lidar com diversas urgências. São tantas deficiências que prioridades devem ser escolhidas. Infelizmente, o foco está em ações que dão mais visibilidade e votos. E muitas vezes, isso prejudica nosso futuro. Para nos adaptarmos aos futuros cenários climáticos, precisamos planejar políticas públicas de longo prazo que vão além dos mandatos políticos.

Essas tragédias mostram que investir em medidas de prevenção é fundamental para a nossa segurança. O planejamento urbano deve considerar os cenários climáticos nos anos vindouros e os riscos e vulnerabilidades aos quais estamos expostos. Isso pode contrapor interesses de
curto prazo. Precisamos de líderes políticos e empresariais que enxerguem além.

O nosso foco atual está em resgatar vidas e restabelecer dignidade aos desabrigados. Se existe algo reconfortante nesse desastre é a solidariedade e capacidade de mobilização da sociedade em prol de um objetivo comum. São milhares de pessoas doando seu tempo, sua força e seus recursos para os mais diretamente atingidos. Unidos, sempre, podemos muito mais. Que permaneçamos assim para o doloroso processo de reconstrução que está por vir.

Eduardo Baltar
CEO da Ecofinance Negócios e
PhD em Administração pela Ufrgs

Eduardo Baltar
eduardo@grupoecofinance.com.br
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